Publicado em 2016-08-30

Como lidar com os nossos sentimentos

Sal. 13:1-6

«Até quando, ó Senhor, te esquecerás de mim? para sempre? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando encherei de cuidados a minha alma, tendo tristeza no meu coração cada dia? Até quando o meu inimigo se exaltará sobre mim? Considera e responde-me, ó Senhor, Deus meu; alumia os meus olhos para que eu não durma o sono da morte; para que o meu inimigo não diga: Prevaleci contra ele; e os meus adversários não se alegrem, em sendo eu abalado. Mas eu confio na tua benignidade; o meu coração se regozija na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.»

Neste salmo o rei Davi tem os seus sentimentos em alvoroço. Os sentimentos maus lutam dentro dele com os sentimentos bons.

Os sentimentos são importantes na nossa vida e também podem ser perigosos. Diz o ditado: «Quem não sente, não é filho de boa gente». Por outro lado, sabe-se que as nossas emoções contribuem com 60% para as nossas acções e que só 40% destas provêem do intelecto. É por isso que as pessoas emocionais são muito activas enquanto que os muito racionais, não decidem ou decidem tarde. Como diz outro ditado: «Quem casa não pensa e quem pensa não casa».

Nós, os crentes, somos por natureza emocionais e isso contribuiu para a nossa salvação. Os sentimentos são importantes nos nossos relacionamentos com Deus e uns com os outros.

Mas os sentimentos, também podem ser perigosos! Quando estão em baixo, eles podem: negar a presença de Deus; pôr em dúvida a resposta às orações; podem questionar as promessas da Palavra de Deus e até podem pôr em dúvida o seu amor. Isto aconteceu com o salmista no salmo descrito acima, que estava em luta com os seus sentimentos, bons e maus. Isto tem acontecido com todos nós. Todos nós temos tido lutas dentro de nós com os nossos sentimentos. É por isso que nós precisamos saber lidar com os nossos sentimentos e emoções: para combater pensamentos errados; para evitar decisões precipitadas e para vencer amarguras e desesperos.

Os sentimentos e emoções não servem para guiar a nossa vida cristã, porque não são estáveis e podem estar errados. A nossa vida é guiada pelo conhecimento que temos das Sagradas Escrituras, pelas nossas experiências com Deus e pelas nossas convicções bíblicas.

A importância dos sentimentos

Os sentimentos são importantes na nossa vida, desde que controlados. Em primeiro lugar, são um sinal de que estamos vivos - os mortos não sentem nada. Os sentimentos, são o motor das nossas acções. Às vezes precisam um travão e outras vezes precisam de um acelerador.

Os sentimentos são importantes no Culto ao Senhor: nas orações, no louvor, na adoração e na reação à Palavra de Deus. Os sentimentos são importantes nos nossos relacionamentos com Deus e com os irmãos, no afecto, na simpatia, na comunhão…​ Os nossos sentimentos podem ser um veículo para o Espírito Santo manifestar os Dons Espirituais. Nós os crentes pentecostais somos por natureza emocionais pela acção do Espírito Santo nas nossas vidas: falamos línguas, profetizamos, cantamos entusiasticamente e balbuciamos «Aleluias!».

Apesar da sua importância, os sentimentos não podem guiar a nossa vida

«Até quando, ó Senhor, te esquecerás de mim? para sempre? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando encherei de cuidados a minha alma, tendo tristeza no meu coração cada dia? Até quando o meu inimigo se exaltará sobre mim?» Sal. 13:1-2

O salmista David, para além de ser bom músico e compositor, era uma pessoa emocional. Ele teve problemas com os seus sentimentos. Os sentimentos diziam-lhe: «…​Deus se esqueceu de ti…​», «…​Deus não olha para ti…​», «Deus não responde às tuas orações…​», «Os teus inimigos vão vencer…​».

Tudo isto que os sentimentos lhe diziam, não era verdade. David não podia dar ouvidos aos seus sentimentos e reagiu aos pensamentos negativos e falsos, com o seu conhecimento de Deus e com as suas convicções. Assim, ele continua:

«Mas eu confio na tua benignidade; na tua salvação, meu coração se alegrará.» «Cantarei ao SENHOR, porquanto me tem feito muito bem.» Sal 13:5-6

Jó teve muito problemas com os seus sentimentos - ele sentiu-se desamparado:

«Não me desamparou todo auxílio eficaz.» Jo. 6:13
«Concluiu que Deus consome o recto e o ímpio!» Jo. 9:22
«Deus tinha escondido o rosto dêle e o considerava inimigo. Deus estava a persegui-lo. Deus estava a sentenciá-lo» Jo. 13:24-26
«Não havia resposta às suas orações. Deus estava contra ele. Jo. 19:7-11
«Deus estava a massacrá-lo e a perturbá-lo. Jo. 23:16
Os sentimmentos levaram Jó a duvidar do Amor de Deus.

A grande luta de Jó foi com os seus sentimentos que negavam as suas experiências e convicções. Por vezes teve que gritar: «Eu sei que o meu redentor vive e que por fim se levantará sobre a terra!» «Ainda que ele me mate, nele esperarei.»

Todos os homens e mulheres de Deus tiveram problemas com os seus sentimentos:

Moisés

não entrou na terra prometida porque os seus sentimentos o fizeram errar e em vez de falar à rocha, ele feriu a rocha. No meio da revolta do povo e de grande tensão, os sentimentos falaram mais alto do que a razão e ele pecou contra o Senhor. Num. 20:7-13

Josué

foi derrotado em Ai por ouvir os sentimentos e foi enganado pela aparência dos gibeonitas que provocaram o sentimento da compaixão.

David

caiu no pecado de adultério, porque um sentimento imoral o dominou.

Pedro

foi repreendido pelo Senhor Jesus, porque pôs os sentimentos acima do plano de Deus ao dizer «…​tem compaixão de ti, de modo nenhum te acontecerá isso.»

Judas

caíu no inferno porque não dominou sentimentos errados.

A nossa vida não pode ser guiada pelos sentimentos, mas por convicções

A nossa vida tem dois centros de decisão: o cérebro e o coração. O cérebro é a sede do conhecimento, das experiências e das convicções. O cérebro é o gabinete dos comandos. O coração é a sede dos sentimentos e das emoções.

Vamos usar uma metáfora com relação à nossa vida. A nossa vida é comandada por dois centros importantes. O departamento cérebro fica no 1o andar e aqui reside um casal com uma filha: o casal é o conhecimento e a experiência; e a filha, chama-se Convicção. Este é o departamento dos comandos.

No rés-do-chão reside um sujeito chamado coração e tem muitos filhos que vivem com êle. É uma família muito grande e não se entendem muito bem uns com os outros. De véz em quando, há bulha entre êles.

Puz-me a contar os filhos (sentimentos) e encontrei uns 16. Entre eles: Consolo, Alegria, Tristeza, Amargura, Desespero, Aflição, Gozo, Esperança, Tribulação, Paz, Segurança, Insegurança, Certeza, Incerteza, Fé, Dúvida. Faltam ainda outros elementos da família, mas para fazer alvoroço, estes já chegam.

O chefe desta família, o coração, é mediocre. Não consegue pôr ordem na casa. É influenciável pela maioria! Sacrifica valores e princípios, pela concordância e harmonia. Algumas vazes, o seu comportammento não é bom. Não é uma referência para os filhos. A Bíblia diz que ele é enganoso e perverso. Jer. 17:4

Às vezes há bulha na casa, no rés-do-chão. Os filhos uns com os outros e com o pai. É preciso o centro de comandos funcionar e pôr ordem na casa. Na tribulação, nas lutas e nas provas, os sentimentos alteram-se. Os sentimentos alteram-se com as circunstâncias: se Deus nâo responde às nossas orações no certo tempo! Se não sentimos a sua presença! Se nos sentimos abatidos. Se tudo parece ao contrário!

Então começa a bulha na casa! Será que Deus é fiel? Parece que Deus te desamparou! Serão as promessas de Deus verdadeiras? Será que Deus me ama?

Os sentimentos negativos agrupam-se (o desespero, a aflição, a insegurança, a dúvida etc), acham que não vale a pena ser crente. Querem voltar para tráz, embora não saibam para onde. O pai, o coração, encolhe os ombros…​

O gabinete dos comandos tem que actuar, põr ordem na casa e traçar o rumo

«Mas eu confio na tua benignidade; o meu coração se regozija na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.» Sal. 13:5-6

David pôs ordem na casa, recorrendo ao seu conhecimento de Deus, às suas experiências e convicções. Em Sal. 42:5,11 e 43:5 David passa nova crise com os seus sentimentos e resolve-a com o seu conhecimento, experiência e convicção, ou seja, com o gabinete dos comandos.

Jó também não caiu no campo de batalha porque conhecia Deus, tinha experiências com Deus e tinha convicções fortes. Demonstrou isso quando disse: «…​eu sei que o meu redentor vive…​» «…​ainda que ele me mate, nele esperarei-»

A nossa vida é sustentada pelo nosso conhecimento de Deus, pelas nossas experiências com Ele e pelas nossas convicções. Os crentes que se deixam guiar pelos sentimentos, ora estão em cima, ora estão em baixo. Os sentimentos alteram-se com as circunstâncias e eles também! Num só dia, podem estar muito contentes de manhã e muito tristes à tarde! São as nossas convicções que dão estabilidade à nossa vida.

O nosso gabinete dos comandos precisa pôr ordem na casa dos sentimentos e traçar o rumo. Às vezes, os sentimentos ficam eufóricos demais e precisam travão. Outras vezes ficam negativos, não reagem e precisam acelerador. São as convicções que utilizam o travão ou o acelerador.

Quando há desordem na casa, no rés-do-chão, os sentimentos começam a falar alto e a dizer-te: -Deus desamparou-te! Será que Deus te ama?! As tuas orações não vão ser atendidas. Tu não mereces a ajuda de Deus. Achas que vale a pena ser crente?

O conhecimento da Bíblia, as experiências com Deus e as convicções, que vivem no primeiro andar, apercebem-se e enviam a filha, a Convicção, lá a baixo, ao rés-do-chão, para pôr ordem na casa. Chegando lá, interrompe a bulha e diz: Vocês estão enganados. Deus não nos desamparou, porque está escrito: «Não te deixarei, nem te desampararei.» Heb. 13:5 Não digam que Deus não nos ama, porque o seu amor é eterno, inalterável. «Deus prova o seu amor para connosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.»

A nossa oração está a ser atendida e vai ser respondida por Deus, porque a Bíblia diz: 1 Jo. 5:14-15 «E esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos.»

A filha Convicção continua: Vocês acalmem-se. Vamos cantar louvares ao Senhor. É necessário fazê-los cantar várias vezes até o ambiente serenar e reinar a calma.

Pode surgir um sentimento descontrolado, a impaciência, a fazer barulho e a dizer: «Não posso esperar mais, não aguento mais o silêncio de Deus…​» O gabinete dos comandos, o Conhecimento e a Experiência, enviam a Convicção com a mensagem: Vai lá e diz-lhes que se calem, porque o caminho é: «Esperei com paciência no Senhor e Ele ouviu o meu clamor.» «Na vossa paciência, possui as vossas almas.»

Sempre que há guerra nos sentimentos e estes querem negar as promessas ou duvidar de Deus, o Conhecimento, a Experiência e a Convicção pôem ordem na casa.

Como lidar com os nossos sentimenos

Sal. 42:5-6 e 43.5

Em primerio lugar, não devemos deixar que os sentimentos dominem ou orientem a nossa vida.

O que sentimos não é o mais importante. O mais importante é o que cremos.

Em segundo lugar, arrumemos bem a nossa sala de comandos. «Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor» Osé 6:3
«A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração.» Col. 3:16

As nossas experiências com Deus são marcos fortes que precisamos preservar. Orações que o Senhor já respondeu, mudanças que o Senhor operou, milagres que o Senhor fez, deixaram marcas na nossa vida que precisamos rever e relembrar.

As nossas convicções são filhas do nosso conhecimento e experiências com Deus, são a nossa arma de arremesso contra os sentimentos adversos e comandam a nossa vida, mesmo que os sentimentos digam o contrário. Quando os sentimentos negativos se levantam, precisamos cantar louvores a Deus; quando querem duvidar, precisamos voltar às promessas do Senhor. Às vezes também ficam eufóricos demais e tomão decisões precipitadas - é preciso acalmá-los.

É importante saber lidar com os nossos sentimentos. As nossas crises são mais ou menos frequentes! Tudo à nossa volta é muito complicado. As circunstâncias brigam com os nossos sentimentos e nós precisamos pôr ordem na casa. Não está previsto na Bíblia a derrota do cristão, mas «…​em todas estas coisas sermos mais do que vencedores.»

Os sentimentos são importantes desde que controlados e submissos à Palavra de Deus. Vençamos todas as nossas crises sentimentais com o nosso conhecimento de Deus, com as nossas experiências cristãs e com as nossas convicções.

O nosso gabinete de comandos, onde moram o conhecimento, as experiências e as convicções, é estável - porque o que a gente sabe; o que a gente experimentou, experimentou; e as nossas certezas permanecem. Quando há crise, o gabinete reune, actua e põe ordem na casa.